O Futuro do Tratamento da DPOC: Dupilumab e a revolução no tratamentos dos casos mais graves
Recentemente, a agência europeia de medicamentos (EMA) aprovou o uso do dupilumab, um tratamento biológico inicialmente utilizado para doenças como a dermatite atópica e a asma grave, de acordo com a aprovação emitida em outubro de 2024 (mais informações em: https://www.ema.europa.eu/en/news/ema-approves-dupilumab-treatment-severe-copd), para um subgrupo específico de doentes com Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC). A aprovação aplica-se a doentes com inflamação eosinofílica (uma célula sanguínea) elevada, conforme comprovado por biomarcadores. Essa decisão marca uma viragem significativa na abordagem terapêutica desta doença crónica e debilitante.
A DPOC é caracterizada por uma obstrução progressiva das vias aéreas, frequentemente associada a inflamação persistente e exacerbações que podem levar a hospitalizações frequentes e redução da qualidade de vida. Em Portugal, estima-se que a DPOC seja responsável por cerca de 5 mil internamentos anuais, com um impacto significativo nos custos do Sistema Nacional de Saúde. Além disso, a mortalidade atribuída a esta doença situa-se entre as principais causas de óbito no país, especialmente em populações mais idosas e fumadores. Até agora, o seu tratamento tem-se focado em broncodilatadores, corticóides inalados e intervenções não farmacológicas como a reabilitação respiratória. Contudo, para os doentes mais graves, os resultados nem sempre são satisfatórios.
O dupilumab é um anticorpo monoclonal que atua bloqueando a interleucina-4 (IL-4) e a interleucina-13 (IL-13), dois mediadores inflamatórios envolvidos em várias doenças alérgicas e inflamatórias. Conseguiu-se demonstrar que este medicamento pode reduzir em cerca de 30-40% as exacerbações graves da DPOC e melhorar significativamente a função pulmonar em doentes com inflamação eosinofílica elevada.
Esta nova opção terapêutica representa um grande passo, especialmente para os doentes mais graves que, até agora, dispunham de opções limitadas. Além disso, abre caminho para uma abordagem mais personalizada no tratamento da DPOC, permitindo identificar quais os doentes que mais beneficiarão deste tipo de terapia.
Em Portugal, onde a DPOC afeta cerca de 14% da população adulta, segundo o estudo BOLD (Burden of Obstructive Lung Disease), o impacto deste avanço pode ser transformador. A autorização para o seu uso nesta doença do dupilumab no mercado nacional poderá reduzir as taxas de hospitalização, melhorar significativamente a qualidade de vida dos doentes e diminuir os custos associados à gestão das complicações da doença.
Ao contrário dos inaladores ou de comprimidos, o dupilumab é administrado por injeção subcutânea, geralmente na coxa, abdómen ou parte superior do braço. Na DPOC, a dose inicial recomendada é de 600 mg (duas injeções de 300 mg), seguida de 300 mg a cada duas semanas. É um fármaco de dispensa hospitalar e requer uma autorização prévia, após um pedido oficial. Ou seja, não é algo que os doentes possam ativamente procurar ou requisitar por sua livre vontade.
É importante, no entanto, que os doentes compreendam que o dupilumab não é indicado para todos os casos de DPOC. Apenas aqueles com inflamação eosinofílica elevada deverão ser considerados para este tratamento. O acompanhamento por parte de um pneumologista continua a ser essencial para iniciar e ajustar o tratamento de forma adequada e segura.
Em resumo, o dupilumab traz uma nova esperança para os doentes com DPOC grave, marcando uma nova era no tratamento desta doença respiratória crónica.